A Geração Pod
Jovem de 21 anos sofre com os malefícios do uso de pod e para no hospital
Por Camilly Nascimento e Júlia de Cássia
O uso, comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil por meio da Resolução de Diretoria Colegiada da Anvisa: RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009. Contudo, jovens de 18 a 25 anos consomem os cigarros eletrônicos, mais conhecidos como pods, de forma desenfreada, causando vários problemas de saúde pulmonares.
A decisão da proibição se baseou no princípio da precaução, devido à inexistência de dados científicos que comprovem a eficiência. Mas seu uso tem sido desaconselhado por vários especialistas na área, entre os quais a Associação Médica Brasileira, pois pode causar danos irreversíveis para a saúde.
Proibição dos usos de pods
Como funciona?
Um pod consiste em um pequeno recipiente, geralmente fabricado em plástico ou metal, que contém o líquido de vaping, também conhecido como e-líquido ou e-juice. Este líquido é composto por nicotina em várias concentrações, aromatizantes e, ocasionalmente, outras substâncias químicas. O pod é conectado a uma bateria recarregável que aquece o líquido, transformando-o em vapor.
O pod, ao ser acionado (por um botão ou apenas ao tragar) é aplicada uma corrente elétrica até uma bobina de metal, chamada de resistência, que funciona basicamente como um chuveiro. A corrente elétrica aquece o metal, que por sua vez está envolvendo um algodão molhado com o líquido que será vaporizado e inalado.
A peça responsável por todo o processo chama-se atomizador, possuindo um deck para instalação da bobina e dependendo do modelo também oferece um reservatório para o líquido.
Consequências do uso
Isabelly Martins, 21 anos, estudante da capital de São Paulo, relata - precisei ir ao hospital pois comecei a sentir fortes dores no peito e muita dificuldade em respirar, mesmo fazendo coisas simples como subir a escada do meu prédio. Descobri com a médica que me atendeu que isso era resultado do uso de cigarros eletrônicos.
Mas mesmo sabendo do problema que tive com eles, ainda continuo fumando por não conseguir parar - conclui a jovem.
O problema ocorreu graças ao uso de dispositivos eletrônicos para fumar (DEF) são designados como cigarros eletrônicos, vaper, pod, e-cigarette, e-ciggy, e-pipe, e-cigar, heat not burn (tabaco aquecido), entre outros. É um sistema de inalação de nicotina que simula o consumo de cigarros convencionais, mas sem a combustão das folhas de tabaco.
A jovem que foi parar no hospital, cita que para a sua melhora teve que parar 100% com o uso do cigarro eletrônico - Precisei parar completamente com o uso do pod, pois percebi que tinha chegado em um limite, num ponto que minha saúde estava realmente sendo prejudicada. Só percebi porque tive esses sintomas, mas até o momento não achava que uma coisa como essa poderia acontecer, já que não me considerava viciada. Só vi que o vício estava realmente ali, quando contei quantos desses cigarros eletrônicos eu tinha e quanto dinheiro eu gastava com isso.
Nunca imaginei que uma coisa tão pequena, que era tão normal para mim, poderia acabar comigo. Ainda estou me recuperando, mas com certeza me sinto muito melhor do que a algumas semanas atrás, meu fôlego melhorou, minha respiração melhorou e minha disposição também. - conclui Isabelly.
Pesquisa de Campo
De acordo com uma pesquisa feita por alunas do 5º semestre de jornalismo, na faculdade FAPCOM (Faculdade Paulus de Comunicação), realizada com 187 pessoas, de todos os gêneros, onde a faixa etária é entre 18 até 25 anos, 52,4% de pessoas não fumam e 47,6% fumam, uma porcentagem considerada alta, praticamente a metade.
O resultado teve uma boa porcentagem de pessoas que não fumam nessa pesquisa, mas essa não é a realidade quando falamos do Brasil como um todo. Os participantes da pesquisa deram muitos depoimentos, compartilhando suas experiências em relação ao uso de pod, confira a seguir:
“No começo eu usava só em festas ou quando eu estava com os meus amigos, mas com o passar do tempo fui sentindo cada vez mais necessidade de fumar. Hoje em dia, sempre que eu sinto vontade, eu tenho que fumar se não eu fico cada vez mais irritada e muito ansiosa.”
“Comecei a fumar em festas por influência de amigos, a situação se repetiu algumas vezes até eu comprar o meu próprio pod. Daí para frente eu já não conseguia mais me ver 1 dia sem fumar. Virou parte da minha rotina, demorou 1 ano para eu reconhecer que isso era um vício. Só me forcei a parar pois comecei a sentir o efeito que isso tinha na minha saúde, comecei a sentir muitas dores no peito e fadiga.”
“Sou atleta de atletismo, mas depois que comecei a usar o pod, meu rendimento caiu muito em relação a como era antes. E com isso acabei sendo dispensado do clube, o que me deixou muito chateado e só depois disso pensei em parar”
APROFUNDE-SE MAIS
“O pod se tornou tão frequente na minha vida que já não consigo ficar sem, até mesmo quando eu estou na escola. Ficar sem me deixa ansioso, e um dia decidi fumar dentro da sala, achando que ninguém tinha visto, mas a professora acabou vendo, e tomei suspensão por fumar na sala.”
“Sei dos problemas, mas não paro nem que me pague.”
O que diz especialista
De acordo com a enfermeira Danuza, o pod tem uma doença para se chamar de sua, uma doença chamada EVALI (E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury). A EVALI é a sigla em inglês para doença pulmonar causada pelo uso do cigarro eletrônico, que foi identificada pela primeira vez em 2019. Essa tem sido relacionada à presença de acetato de vitamina E, um tipo de óleo usado no líquido do cigarro eletrônico, especialmente nos que contém THC, que é uma substância psicoativa da maconha, e que interfere no funcionamento normal dos pulmões.
Os sintomas são semelhantes à outras doenças respiratórias, como pneumonia ou até gripe, e incluem falta de ar, febre, tosse, náusea e vômito, dor no estômago, diarreia, tontura, palpitação, dor no peito e cansaço excessivo. Os sinais podem surgir em alguns dias ou após várias semanas. Logo, Danuza adverte que é necessária ajuda médica na presença dos sintomas, para que seja realizado o diagnóstico e iniciar tratamento mais adequado, que muitas vezes é feito com internamento, utilização de oxigênio e uso de medicamentos como corticoides, antibióticos ou antivirais, por exemplo.